Estou aqui na sala compartilhada de um hostal, em Cauquenes, sul do Chile. Ouvindo Aldir Blanc, e observando outros hóspedes conversando entre si e telefonando.
Estou a 25 dias no Chile, a 17 aqui.
O receio de mudar de país como um aventureiro, para trabalhar nas viñas (vinícolas) chilenas, sempre existiu, mas a adaptação foi mais fácil do que pensava.
Mesmo sem nunca ter falado ativamente espanhol, e começado a falar há 25 dias, já ouvi três vezes que eu “hablava bien castellano”.
Quando pesquisei sobre o Chile, o fato que mais aparecia era de que se tratava de um país sísmico, e, é claro, fiquei impressionado, pois não temos nada nem perto disso no Brasil.
Passei por alguns perrengues, mas nada relacionado aos monstros que eu criei, que eram a comunicação e os terremotos.
Mudanças
Uma frase que me marcou muito antes de ir ao Chile, que enviei a um grande amigo que passava por um momento difícil vivendo nos EUA, é a seguinte:
“Você pergunta por que tal fuga não o ajuda? É porque você foge acompanhado de você mesmo. Você deve deixar de lado os fardos da mente; até que você faça isso, nenhum lugar irá satisfazê-lo.”
Se estamos presos a algo, ou não estamos abertos a mudanças, ou, pelo menos, tentar mudar, é melhor nem perder tempo e sair de casa.
É como se tentássemos escapar de uma realidade. Se você não se liberta do seu EU atual, somente irá transferir seus problemas para um novo lugar. Isso independe de onde você está, pois sua mente sempre irá acompanhá-lo.
Não sei se é exatamente pelo fato de viver outra cultura, mas em 25 dias, me senti mais modificado do que em todos os períodos da minha vida. Quando passamos dos 30 anos, é normal fazermos uma auto reflexão, e por tudo que já vivi, foi minha percepção de momento.
O problema da frase de Nelson Rodrigues “jovens, envelheçam”, é que não somente a mente envelhece, o corpo também. Não sou como essas pessoas que dizem que estão velhas com 30 anos (e se orgulham disso), acho uma besteira, mas a percepção de amadurecimento é maravilhosa, até para analisar os passos que dará na “vida futura”, e a noção de que sim, há tempo, muito tempo para viver. Essa ideia de envelhecer jovem, e sempre dita com uma conotação negativa, só aumenta a pressão para “ser alguém” com tão pouca idade.
Redescoberta e experimentação
Para mim está sendo um processo de redescoberta de caminhos.
Sabia que não iria construir uma vida comum do brasileiro médio. Essa noção de família, trabalho, casa, filhos, nunca me seduziu.
O que sempre me seduziu, foi conhecer as diferentes culturas do mundo, e não de forma superficial, mas de forma profunda, como um maníaco. É sério, eu só consigo me concentrar dessa forma. O problema é que também gosto de mudanças, e minha concetração muda de foco repentinamente. Uma hora estou viciado em livros, outra hora num escritor especifíco, outra outra num diretor, outra hora em música Cubana, outra hora na cultura Chilena.
Rotina é importante, mas tenha medo dela! Você não precisa mudar de país para buscar experiências novas, fuja da mesmice, dos mesmos lugares, das mesmas pessoas. É a forma que eu vejo de buscar uma mudança interna, de não se sentir envelhecido aos 30 anos, de revigorar-se e ir crescendo como ser humano.
Não sei se experimentar é o propósito de nossas vidas, mas deveria ser um dos pilares, e esta é a única certeza que eu penso saber e ser correta.
*texto escrito em 29/5/2024