Quando cheguei a Cauquenes, não sabia o que esperar da cidade, localizada mais ao sul do Chile.
O primeiro momento foi descobrir onde iria me hospedar pelos próximos meses.
Cheguei a um hostal chamado Las Tinajas. Casa simples e aconchegante, feita com muita madeira, onde vive uma família muito simpática que me fazem companhia (avó, avô, filho, nora, netas e cachorro).
Minha “habitácion”, como todas as outras, fica no 2º andar, e já logo escolhi o quarto 2, imediatamente à esquerda após subir as escadas.
Faço tudo no hostal. Café da manhã, almoço e lanche à noite, estão inclusos no valor que pago semanalmente. A internet é excelente, o que facilita trabalhar por aqui.
Os banheiros são compartilhados (acho que 4 ou 5), mas o fluxo de pessoas não é tão grande e você acaba se acostumando.
Sobre meu quarto
Meu quarto remete a um local onde escritores estariam se debruçando em uma máquina de escrever, tomando um whisky e fumando. Todo de madeira, luz central não muito forte. Em vez de uma escrivaninha para escrever, temos uma televisão IRT moderna.
As paredes do meu quarto, o teto, e o piso, não possuem isolamento acústico, pelo menos de fora para dentro, e acabo escutando os movimentos e conversas das pessoas no 1º andar, onde ficam a sala e cozinha do hostal.
Creio que um fofoqueiro brasileiro ficaria decepcionado, porque ao mesmo tempo que escuto tudo, não entendo nada. Me viro bem no castellano, mas nada me preparou para entender um grupo de chilenos conversando a toda velocidade, e com paredes de obstáculo. O que consigo entender bem, é quando outro hóspede pega um dos quartos ao meu lado, e começa a roncar como um carburador de fusca.
Eu gosto de silêncio ou de música para escrever ou para qualquer trabalho que exija concentração. As paredes finais de madeira, quando não temos outros hóspedes roncando alto, ou ouvindo televisão alta ou jogando jogos de tiro no celular de madrugada e sem fone de ouvido, são até divertidas.
Há muitas vantagens em estar hospedado no Meu Quarto Escuro de Paredes Finas Onde Escuto Tudo:
- A dona do hostal ou a cozinheira, me chamam para almoçar gritando lá de baixo.
- Eu posso responder gritando “ya voy” e elas escutam perfeitamente.
- Consigo saber se hóspedes novos chegaram ao hostal.
- Quando o meu vizinho de quarto, de madrugada, joga um jogo de tiro, sem fone de ouvido, e com o celular alto, eu coloco uma música brasileira alta para ver se ele se liga.
- Quando o outro vizinho ronca muito, consigo dar pequenos socos na parede para tentar cessar o barulho.
- Se quero ir ao banheiro, sei se alguém está no corredor e posso esperar.
- Consigo saber se a família do hostal está lá embaixo, e desço para ter um pouco de companhia.
- Escuto quando a moça da limpeza está no 2º andar, e libero o meu quarto para ela arrumar a cama de forma que eu não morra de frio (tem alguma tecnologia na arrumação de cama para frio, algo que um brasileiro praiano não consegue decifrar).
- Posso treinar minhas habilidades de ninja, e tento ser o mais silencioso possível quando estou no quarto, pois sei que o barulho dos passos é irritante para quem está no 1º andar.
- E uma última vantagem, tudo que é de madeira fica mais bonito. Por mais simples que meu quarto seja.