Quando cheguei a Cauquenes, estava marcado uma reunião da cooperativa de vinhos, VIDSECA, para minha apresentação.
Vim para cá com o intuito de fazer um trabalho voluntário com as viñas (vinícolas), tudo dentro da minha área de Marketing.

Me apresentei aos 17 cooperados, e mais ou menos a metade se demonstrou interessado em meus serviços. O começo foi difícil, porque por mais que houvesse interesse, eles não me comunicaram para marcar uma visita ou um encontro. Por fim, acabei trabalhando com 2 viñas, e mais ativamente com a Viña Gran Hidalgo.
Acabei demorando um mês para conhecer Claudia e Luis Carlos, os donos da viña, mas não por culpa deles, pois acabaram pegando bronquite e ficaram de cama por alguns dias.
Passado um tempo, Luis voltou a contactar-me, e Claudia me buscou no hostel onde estava hospedado, para um primeiro encontro e visita a viña. Nossa primeira conversa foi muito boa, e vi que teria trabalho a fazer. Nos mantivemos conversando por whatsapp, e por algumas vezes vim a viña passar o dia. Claudia já havia me oferecido um de seus quartos de hóspedes para eu ficar, mas o que me impedia era a internet, até então um pouco precária por aqui, muito pelas condições de quem mora no campo.
Faltando um pouco mais de 10 dias para me despedir do Chile, resolvi passá-los na Viña Gran Hidalgo, para terminar os últimos trabalhos que tinha com Claudia e Luis. E esses dias foram como viver mais 3 meses no país.

Para começar, quando cheguei aqui, Claudia havia resolvido o problema da internet com um roteador e chip Wom, e ao longo dos dias, foi como uma revitalização para os desafios que enfrentarei pela frente, agora na Argentina, meu próximo destino.
Aqui, fiz amigos, fiz amizades com os amigos desses amigos, festejei meu aniversário, conheci uma praia banhada pelo oceano Pacífico, participei de um curso de degustação de Vinhos, fui a feira de Cauquenes algumas vezes, e principalmente, conheci a Viña Gran Hidalgo.

Os donos da viña, Claudia e Luis, vivem com os pais de Luis, Nono e Marta. Como todo trabalho rural, é muito duro, sempre há trabalho, seja na bodega onde estão armazenados os vinhos, seja na casa, seja nas plantações, sempre há algo a se fazer. Eles ainda tiram tempo para seus amigos, seus dois filhos, que já não moram mais aqui, e seu novo neto, Pascal, que nasceu há 2 dias.
Luis é um cara de muitas risadas, muita energia, que não consegue ficar parado. Foi um esportista de destaque na sua juventude, e jogava Padel todas as semanas , uma espécie de tênis com paredes. Claudia também é muito divertida, e tem um instinto materno apurado, está sempre cuidando e se preocupando com todos. Mesmo antes, quando eu ainda estava no hostel, ela já me perguntava como eu estava, demonstrando preocupação.

Viver no viñas é viver no mais profundo silêncio, tomar o melhor vinho chileno, e sentir prazer o tempo todo. Prazer por estar aqui com essas pessoas, de poder desfrutar com elas, prazer de viver. A labuta do campo não é fácil, e creio que a mudança de rotina é um pouco necessária para descansar a mente, nesse caso a deles, por terem me recebido, por me terem feito uma surpresa de aniversário, por serem esses anfitriões incríveis. Como toda minha família possui raízes interioranas, eu conheço essa realidade e admiro ainda mais quem vive nela.
No último sábado, recebemos 2 amigos, Jorge e Lilian, com seus 3 filhos, mais uma guerra, e foi um daqueles dias mágicos, onde você só torce para não acabar. Muitas risadas, fartura e vivência.

Pós-sábado, eu estava sempre pensando “que sorte eu tenho”, foram muitas coincidências acontecendo para o que presenciei aqui.
Acredito que cheguei na hora certa. Foi como os dias e momentos que precisava para me marcar profundamente a experiência de viver no Chile. Minha cabeça se transformou para sempre.
Despedidas são tristes, mas creio que é apenas o encerramento do meu primeiro ciclo chileno, não o último.
Nos vemos.