Cheguei dia 2 de agosto a Santiago del Estero, Argentina. Vim para trabalhar em uma cooperativa de mel, chamada Coopsol.
Como cheguei numa sexta-feira, acabei descansando no fim de semana. Domingo, dia 4, vinda de Buenos Aires, chegou Ana Laura. Ela é a pessoa que me convidou para trabalhar com a cooperativa, e me recebeu em sua casa, junto com sua família.
Passados dois dias de trabalho na cooperativa, o pai da Ana, Rene, que é um dos sócios da Coopsol, me convidou para ir em uma viagem, já no outro dia, para uma cidade chamada El Sauzalito. A região para onde iríamos, possui a alcunha de “El Impenetrable” (“O Impenetrável”), e vocês já vão entender o porquê deste nome.
Fomos visitar uma cooperativa de mel parceira, que é composta por sócios apicultores. Aceitei o convite e partimos no outro dia, às 9 da manhã.
Fomos eu, Rene e Hugo (outro sócio). O começo foi tranquilo, asfalto com muitas retas, ouvindo música folclórica santiagueña e tomando mate.

Para ser sincero, eu não sabia que a viagem era tão longa. Percorremos mais de 600km para chegar, enfim, ao El Impenetrable, e foi aí que a nossa viagem começou de verdade.
El Impenetrable
Entramos em uma estrada de chão. Já tinha sido alertado que El Sauzalito se encontrava em um lugar mais isolado.
Sabe essas histórias de pessoas que percorrem 3 dias de barco na amazônia para chegar ao seu destino, pois então, a estrada de chão tinha incríveis 250km. Nada de estrutura, nada de pontos de parada. Se o seu carro quebra, não há sinal, não há nada, é torcer para receber ajuda.

Vimos poucos carros passando, um pouco mais de motos, e muitos animais. Porcos, cabritos, burros e gado selvagem. Como já era noite, todo cuidado era pouco.
Saímos às 9 e chegamos às 22h em um hotel de El Sauzalito. Cerca de 15 pessoas nos esperavam, todos meleiros locais.

Estava muito calor. Com 20 minutos de conversa, começou a chover (algo raro na região); depois cortaram a luz (algo comum na região). A geração de energia não suporta a exigência dos seus 7.500 mil habitantes e sempre é cortada.
Depois de muita conversa entre Rene, Hugo, Luis (um amigo veterinário que buscamos pelo caminho) e os meleiros, alguns deles foram buscar nosso jantar, um leitão e abóbora assados. Havia refrigerante e vinho. O vinho era tomado com soda, ou em uma caneca de ferro grande com gelo, que era compartilhada por todos. Por fim, um senhor bigodudo me passa algumas folhas de coca, que eles também chamam de boldo, e me manda colocar por dentro da bochecha, sem mastigar ou engolir, eu obedeço. Essas folhas possuem o mesmo efeito do boldo brasileiro, bom para o estômago.
Fomos dormir e descansar para o dia seguinte. Ainda estávamos sem luz.
El Sauzalito
Acordo de manhã, ligo a luz e tomo banho. 20 minutos depois, a energia é cortada novamente.
Saímos ao encontro de Joselu, o líder da cooperativa local. Tomamos café da manhã, com deliciosos medialunas (croissants) e mini folhados; também tomei um chá mate para esquentar, não o tradicional argentino, mas o de saquinho, como no Brasil. Como chove pouco na região, média de 3 vezes ao ano, eles não trabalham nesses dias.
Enquanto eles conversavam, resolvi pegar minha câmera e tirar algumas fotos.
Tirei primeiro do hotel, e depois desse grupo de argentinos conversando e tomando um mate pelando de quente.

(pela ordem: Hugo, Joselu, Rene e Luis)
Registrei o rio que passava em frente de onde estávamos, Rio Bermejo, que possui diversos nomes. Como o rio é muito extenso, cada povo de diferentes regiões o batizou com um nome diferente.

Cooperativa de El Sauzalito

Conversa finalizada e fotos tiradas, fomos à sede da cooperativa. Passamos primeiro na casa de Tori, um outro sócio que iria nos acompanhar com mais um companheiro.
Ele entregou para Luis um barril com mel, e para Rene uma garrafa com mel.
Paramos cerca de 300m da cooperativa (não entendi exatamente o porquê). Fomos caminhando com cuidado, a lama estava muito escorregadia.

Conhecemos as instalações, com muitos maquinários para fabricar o mel como conhecemos.
Saímos da sede e eles foram para mais uma roda de conversa, sentados a alguns metros da cooperativa, em caixas de apicultura. Não me sentei, fiquei de pé, já sabia que passaria o dia novamente no carro. Após a chuva e caminhada na terra escorregadia, imaginava o que poderia ser parte da nossa viagem, o barro.

Voltando a Santiago del Estero

Nos despedimos e partimos para a “estrada”. Com a chuva, praticamos uma mistura de rally com surf (a prancha era o carro). Havia muitos trechos barrentos em que nós deslizávamos de um lado para outro. Foram 250 km assim. Alguns poucos aventureiros saíam de casa e encaravam o barro, inclusive corajosos de moto.
Já no começo da viagem, a água do para-brisa acabou. A única coisa a se fazer era usar o limpador para jogar o barro do vidro para os lados e tentar enxergar o caminho, um caos total. Nosso carro era 4×4 e, mesmo devagar, conseguimos andar bem.

Depois de 250km percorridos, finalmente saímos da estrada de chão. O carro estava com uma capa de barro (MUITO barro), que para piorar, já estava um pouco seco. Seguimos a viagem, buscando um local para lavar.
Chegamos a um lava jato de beira de estrada, e rapidamente o carro foi limpado, mas não por completo. Como era muito barro e a viagem ainda era longa, Rene pediu apenas para ele focar nas rodas e na placa.
Seguimos para os 600km finais.
Deixamos Luis e seu barril com mel na entrada da sua cidade, Sáenz Peña. Seus filhos o esperavam de carro.
Como em toda viagem longa, primeiro fomos enjoando de conversar, depois de escutar música, e no final, eles estavam cansados de dirigir, e eu de estar dentro do carro buscando uma posição confortável para sentar.
Chegada
Comemos um almoço/jantar num restaurante de posto de gasolina, já eram 18h. Nos preparamos para o sprint final, mais 5 horas de viagem.
Fui o primeiro a chegar em casa, Ana já estava dormindo, Marta me perguntou se eu queria pedir um delivery. Não quis. Não estava com fome e tampouco conseguiria esperar acordado. Só queria mesmo tomar um banho, descansar, e digerir tudo que tinha vivido nesses 2 dias.