Se você algum dia já pensou em comer um churrasco argentino, tenho uma péssima notícia, ele não existe.
O argentino nem conhece o conceito de churrasco, nem existe essa palavra em seu vocabulário. No máximo, churrasca.
Eu morei em Santiago del Estero, para o norte, e foi lá que conheci o verdadeiro assado ou parrilla argentina.
Para começar, uma diferença fundamental é que não há um latifúndio entre a grelha onde vai a carne e o carvão, são muito próximos; a ideia aqui, é assar a carne com a brasa, não com a chama. O próprio carvão é de pinha, nada de eucalipto; com um saco de 3kg, você consegue fazer uma quantidade incrível de carne, e sem usar todo o saco. Não me lembro a última vez que fiz um churrasco no Brasil e não comprei, no mínimo, um saco de 10kg.

O boi argentino é o angus, não o nelore, e portanto, as carnes são distintas. Assim como não comemos tripas, rins, glândulas e tetas de vaca, os argentinos não comem cupim, só o nelore possui essa “corcova”. A glândula é uma delícia, parte interna do pescoço do angus. Também fui informado que uma parte da teta da vaca é um dos melhores cortes, não tive a oportunidade de comer, é estranho? Assim como é estranho para eles nossa paixão por coração de galinha.
Carnes com ossos são mais baratas, pois são usadas apenas para consumo interno. Comi assado de tira todas as semanas, uma carne que custa R$120,00 no Brasil. Outro corte que eles valorizam muito também é o vacío, a nossa fraldinha. Choriço (linguiça) e Morcilha (choriço), são muito bons, e olha que nem como morcilha no Brasil, a famigerada linguiça com sangue.
No assado santiagueño, não há muita mistura de carnes, se é boi, é boi, se é frango, é frango. As carnes de osso são sempre as melhores, e você pode comer linguiças, tripas, rins e glândulas, todas muito boas, apesar dos nomes não ajudarem (em espanhol até melhoram: chinchulin, riñones e molleja).
Outra coisa anti churrasco brasileiro é a duração. Um assado não sai por porções, ele sai completo, ou seja, praticamente todas as carnes ficam prontas juntas. Quando chega o momento de comer, todos se sentam, e aquela quantidade linda de carne vem ao nosso encontro. Sempre tem uma salada para acompanhar, não há arroz e feijão, muito menos tropeiro, salpicão e farofa. Batatas são muito comuns e estão sempre como complemento.

Parece meio chato essa rapidez em comer, servir tudo junto, não ter aquela resenha demorada, mas é compreensível. Para eles, é como se fosse um almoço comum, não é algo pensado para ser uma confraternização, é como se estivéssemos indo comer arroz, feijão e bife. Eles também não são cervejeiros como nós, até tomam, mas muito moderadamente.
No fim das contas, o importante é estarmos num mundo onde podemos comer o churrasco brasileiro e a parrilla argentina com o mesmo prazer.