Repare que coloquei uma interrogação no título. Não sou nenhum coach ensinando hacks de produtividade e qualquer besteira do tipo. Não posso afirmar que sei como combater os vícios, pois se tivesse a fórmula, já a teria aplicado há muito tempo.
Combater os vícios é lutar consigo. Faz parte de nós. É a conversa interna em que estamos sempre nos perguntando: por que estou perdendo meu tempo com isso?
Esse é meu grande dilema: a utilização do tempo. Gastar tempo com coisas inúteis. O grande malefício do vício. E não me venha com “bons vícios”, como por exemplo, vício em exercícios físicos. O estereótipo do bombado burrão é real, e todos sabem disso.
90 minutos de futebol, e a não ser que seu time seja campeão ou ganhe um clássico, não há nada de benéfico nisso. As probabilidades estão sempre jogando contra você. É jogar o tempo fora. Racionalmente, sabemos que abandonar esse vício é o ideal, mas fazer isso é uma tarefa impossível. Eu já tentei. Diminui o consumo e fico sem assistir a alguns jogos; mas é como aquela icônica frase de Michael Corleone no filme O Poderoso Chefão: “justo quando pensei que estava fora, eles me puxaram de volta”.
Viciados são especialistas em dizer sim. “Ah, passando um joguinho de basquete, por que não?”; “Ah, esse filme é legal, por que não?”. É sempre uma busca incessante por algo, e a fuga das responsabilidades principais. Viciados procrastinam e priorizam coisas inúteis, e sabem que estão fazendo isso. Não adianta ficar avisando ou dando conselhos.
Eu mesmo, passo horas nas redes sociais odiando e amaldiçoando tudo que vejo. Nunca comento nada. Só vejo e fico sozinho com minha revolta. Sou sadomasoquista? Claro que não. É o maldito vício. Ser viciado até em coisas que odeia e sabe que são ruins, como um fumante inveterado. Adicionei aplicativos bloqueadores de redes sociais e de sites por todos os lados no meu computador, e excluí vários apps do celular, mas o viciado sempre encontra maneiras de burlar. O que tento fazer, é dificultar e antever meus passos. Se tiver fácil de mais, essa mistura entre vício e procrastinação, é a junção perfeita para o problema, não há escapatória.
Os viciados devem adotar a radicalidade para combater sua adicção. Nada dá para “fazer moderadamente”, isso é mentira. A pessoa moderada, volta a se tornar compulsiva em pouco tempo. Se deseja diminuir alguma atividade prejudicial, seja radical e corte da sua vida. Dessa forma, você irá brecar o problema e torná-lo menos tóxico.
Na verdade, o grande problema do vício, é atrapalhar as partes importantes e agregadoras da nossa curta vida. Não há possibilidade de não sermos viciados. “Meu vício por futebol vai durar duas vezes por semana, durante os 90 minutos de cada partida. Nada de programas esportivos, mesas redondas e sites de notícias”. Foi a maneira que encontrei para combater esse vício específico.
Se fosse uma escolha, eu preferia não ser viciado em nada, ou pelo menos escolher meus vícios. Não queria ter que me planejar tanto para ler meus livros, ou escrever. Inclusive, seria mais legal se eu fosse viciado nisso. Mas, alguém é viciado em alguma coisa boa? Há algum vício bom? Como diz o poeta: “até ser viciado em beber água é ruim”; mas, é melhor ser viciado em beber água do que cachaça, não? Se temos que conviver com nossos vícios, é melhor que pelo menos possamos escolher alguns deles, e que sejam menos prejudiciais que outros.
Se eu não conseguir ser radical ao ponto de matar meus vícios, quero pelo menos deixá-los debilitados e de cama. Devemos lutar contra, e não permitir que eles controlem nossas vidas.