Buenos Aires,
24 de Setembro, 2024.
Caro Ernest,
Desculpe te incomodar, mas queria agradecê-lo pelas ideias. Creio que não saiba a quais ideias estou me referindo, já lhe conto.
Assisti a um documentário sobre sua vida, e tomei conhecimento das cartas que enviava aos amigos e a seu irmão. Eu admiro muito a forma como você escreve, me parece simples, no melhor sentido da palavra. Pelas suas cartas, percebi a identidade de O Velho e o Mar. Gostei tanto dessas cartas, que resolvi escrever pelo menos uma semanalmente.
Você deve estar se perguntando, “mas que diabos há de tão inovador em escrever uma carta?”, pois é Ernest, vivo numa época distinta da sua. Cartas são mandadas de outras formas, a todo momento, e nem sempre com palavras.
Quero ter a permissão de enviar essas cartas para você. Sei que, provavelmente, tem muitas coisas melhores para ler, mas quero ter a sensação de estar falando contigo, mesmo que não obtenha respostas, mesmo que não leia o que escrevi.
Temos coisas em comum. Nascemos no mesmo dia, 21 de julho, com 94 anos de diferença; agora, viajo e moro por diferentes países, como você fez por toda sua vida. Outra coisa em comum é que também escrevo, porém, não sou escritor.
“Como escreve e não é escritor, idiota?”
Arte no Brasil não é valorizada, tanto artística quanto financeiramente. É praticamente impossível uma pessoa viver somente da escrita.
As pessoas atualmente falam muito do “ter que escrever”, como um chamado interno para escrita, o que confesso achar uma bobagem, concorda comigo? Eu escrevo porque quero e gosto.
No começo do documentário a que me referi, você fala sobre como é mais fácil viver do que escrever, e que a dificuldade de escrever, é o que te impulsionava. Acho interessante este ponto de vista, mas acredito que no fundo você gostava, e sabia que era bom nisso.
Para encerrar, queria destacar uma frase que você disse em relação a escrever, a vida e o mundo.
”sempre tentando simplificá-lo, ao invés de estafá-lo ainda mais”.
Não é sobre filosofar, religiosidade e afins; é saber enxergar a potência do simples, dentro da complexidade do universo.
Se chegou até aqui, foi bom falar contigo.
Do seu admirador, Tiago.