É difícil falar da Argentina, e não esbarrar nas obviedades do país: carne, futebol (ou Maradona) e Mate.
No momento, estou na capital Buenos Aires, mas estive por mais de um mês morando no norte, em Santiago del Estero. Para o estrangeiro desavisado, Buenos Aires nos faz ter a percepção de que os Argentinos tomam pouco mate, o que é um pouco de verdade se compararmos com os Uruguaios. A média de consumo individual da Argentina é de 4kgs anuais, dos uruguaios, 20kg!
Os porteños, argentinos de Buenos Aires, não possuem o hábito de consumo do mate como nos interiores do país. Em Santiago, eu via a todo momento pessoas tomando mate. Na cooperativa onde trabalhava, um saco de erva ficava disponível a todos, assim como um jarro elétrico para esquentar água.
Quando viajei para a região do Chaco, em El Sauzalito, vi um casal tomando mate em cima de uma moto em movimento. Não preciso nem dizer que não estavam de capacete, mas a destreza deles me impressionou, pois se já é difícil tomar mate com o carro andando, imagine com uma moto.
Mate x Café
O mate também possui cafeína, um terço da do café, o que a deixa menos agressiva se tomada em grandes quantidades.
O café tem algumas ocasiões que ele é mais recomendável; ao acordar, depois do almoço, quando bate aquele cansaço, já o mate não. Mate é tomado a todo momento, é como um ritual. Bota água, bebe, bota água, bebe; acho que eles se hidratam assim, não achei os argentinos muito fãs de tomar água. Talvez faça sentido, pois 500 ml de água são tomados de tabela a cada quantidade de erva consumida, vai depender muito do tamanho do seu mate.
O recipiente Mate

Um mateiro precisa de algumas coisas para ser feliz.
O primeiro é o mate, que é o recipiente em que colocamos a erva. Há mates modernos de plástico e alumínio, que são até mais práticos, pois não exigem a retirada da erva úmida a todo momento, e é mais fácil de limpar, possuindo também, mais durabilidade. É claro que não são os mais tradicionais.
O mate de calabaza, é o mais tradicional, e foi o que eu comprei em Santiago del Estero. Feito de abóbora ressecada, exige um tempo para “curar”, então, o ideal é nunca deixar a erva úmida por muito tempo no recipiente. Como se trata de um mate vegetal, há risco de fungos se você não praticar uma limpeza adequada. A medida que for tomando e limpando este mate, no processo de secagem, ele vai adquirindo uma coloração mais escura e uma aparência seca, até ficar 100% homogênea. É bom lembrar, nunca devemos lavar esse tipo de mate com nada mais do que água, o vegetal absorve qualquer coisa que entrar em contato com sua superfície.
Outro elemento indispensável são as ervas, possuindo muitas variedades. Com mais paus, mais finas, mais grossas, com menos pó, saborizadas, têm para todos os gostos. Você pode mesclar ervas de diferentes tipos, fiz isso várias vezes e fica muito bom. Provavelmente, fui a única pessoa da Argentina a comprar uma erva saborizada de guaraná, não recomendo que faça o mesmo.
O 3º elemento, é a Bombilla, aquele canudinho de alumínio. Não é um canudo normal, ele possui um formato único, com algumas variações. O seu diferencial é a parte que fica submersa na água com erva, como uma espécie de filtro para tomarmos apenas a água e deixar a erva de fora. Por isso a erva para mate não é fina, pois se houvesse muito pó, provavelmente seria uma experiência ruim ter que ficar desentupindo sua bombilla.
Agora, para finalizar, o elemento mais óbvio e fácil é a água quente; mas não tão quente, para não queimar a boca. Como o mate é muitas vezes compartilhado, antes de comprar o meu próprio, tomei várias vezes com os argentinos e queimei bastante a boca. A bombilla quando esquenta fica muito quente!

Existem algumas técnicas tradicionais para preparar um bom mate, mas não vou discorrer por aqui, até porque muitos não seguem à risca essas tradições, a praticidade conta mais. A única dica que eu uso e é real, é de nunca encher o mate de erva; coloque apenas a metade ou pouco mais que isso, pois a erva úmida incha, ocupando todo o espaço do seu mate, e não sobrando quase nada para pôr a água.
Outra dica é, se você for tomar mate com um argentino, nunca mexa na bombilla! Mate não é milkshake, nem suco de laranja. Se for tomar, pegue o mate por baixo e pronto, essa é a única regra que todos respeitam.
Compartilhando
Assim como o nosso café, há momentos de tomar mate sozinho, mas há momentos de tomar compartilhando.
Se 4 argentinos estiverem em uma roda de conversa, não haverá um mate para cada um, haverá apenas um mate, que será compartilhado por todos, sempre respeitando a ordem da roda, do 1º ao 4º.
Se você não quer tomar mais, agradeça e recuse; a roda continuará, pulando sua vez.
No trabalho, é mais comum cada um ficar com seu próprio mate, até porque, compartilhar quando cada pessoa está em sua própria mesa ou sala do escritório, não me parece muito prático.
Além de cultural, me parece que tomar mate virou algo inconsciente do argentino, é como trocar de roupa, beber água, respirar, parte de viver e sobreviver.