San Salvador,
6 de Novembro, 2024.
Caro Ernest,
Hoje faz um dia úmido em San Salvador. Posso observar um mar de neblinas da minha janela.
Por aqui, tudo bem. Fiquei em casa pela manhã e resolvi escrever, devo ir ao escritório pela tarde.
Os últimos dias foram agitados. Conheci novas pessoas, lugares, montanhas, vulcões, praias; tive novas experiências.
El Salvador me reaanimou. Pensei que aqui seria meu último destino, que voltaria enfim para o Brasil, mas não. Surgem possibilidades à minha porta, e sinto que devo aproveitar.
Ontem foi um dia de reflexão, estava com energia e pensamentos negativos. Penso demais sobre o futuro, creio que não deveria tanto. Toda essa minha viagem/aventura, partiu de uma ideia “Chile”, e o destino colocou “Argentina” e “El Salvador” no meu caminho. Sinto que só vou conseguir fazer planos novamente quando voltar ao Brasil. Pensar no futuro por aqui, me deixa triste, porque eu estou feliz, aproveitando o presente, como a muito não fazia.
Conhecer as praias salvadorenhas me levaram por um dia ao Brasil, não por similaridade com as praias capixabas, mas pelo poder inexplicável do mar, das areias e da praia. Fui com uma amiga de Belize, comemos açaí, tomamos caipirinha, e tivemos um dia incrível, diria mágico, os astros estavam alinhados, momentos que você torce para serem eternos. Mas a realidade se impõe, fomos embora, e já no outro dia, fui ao escritório trabalhar e ela pegou seu voo de volta para casa.
Eu nunca me senti parte de nada, sempre me senti um peixe fora d’água, desde sempre sou assim. Aqui me sinto mais próximo de um grupo, não que eu faça parte dele, mas me sinto acolhido, fui abraçado. Foi assim que você se sentiu em Cuba?
Gosto de muitas coisas do Brasil, mas seguimos por um caminho ruim e sem volta. As pessoas estão contaminadas politicamente, reproduzem os comportamente imbecís de seus ídolos políticos, e me deixam desesperançoso quanto ao nosso futuro.
O ideal brasileiro já não existe. Somos um país corrompido, ninguém tem brio, aceitamos o que nos é imposto; do trabalhador que ganha um salário mínimo ao presidente, todos se corromperam.
Ser livre é a nossa escolha Ernest, obrigado por ouvir meu desabafo, obrigado por me escutar, um grande abraço!