Havana, Cuba. (1974).
6:47h da manhã.
— Ibrahim! Ibrahim! Está em casa?
Ibrahim acorda meio atordoado e vai de encontro a janela.
— Oi Compay, bom dia para você também! O que foi?
— O telefone, você tem que atender o telefone! Agora!
Ibrahim coloca uma camisa e sai de casa, caminhando até o telefone central do seu bairro, La Cachimba.
— Meu deus Compay, que desespero é esse, quem é no telefone?
— É Fidel! Fidel quer falar com você.
— Que Fidel? Olha, se você tiver de piadinha comigo…
— Não, não estou, é ele, quer dizer, não é beeem ele.
— hum…
— É a sua secretária, Omara, disse que Fidel tinha um assunto urgente para tratar com você.
Ibrahim olhou pensativo para Compay e não respondeu. Começou a apressar o passo.
Chegando a 50 metros do telefone, Ibrahim vê uma multidão em volta, toda a vizinhança de La Cachimba estava ali, como se ele fosse o Beny Moré em pessoa, prestes a fazer um show.
Chegando ao local, ele passa com certa dificuldade pelas pessoas e escuta vozes o chamando, mas não presta muita atenção. Ibrahim olha contemplativo para o telefone, respira fundo e atende.
— Alô, aqui quem fala é Ibrahim.
— Ibrahim Ferrer? Filho de Barbarito Ferrer?
— Éee, sim. Éee, quer dizer, sou sim.
— Que bom te conhecer Ibrahim, tenho um recado do senhor Fidel para você.
Ibrahim a interrompe.
— Moça…
— Omara.
— Omara, desculpe a pergunta, mas de qual Fidel estamos falando.
Omara não consegue segurar uma leve risada.
— Sim, o recado é do senhor Fidel Castro, peço desculpas se te peguei desprevenido.
— Não, não, eu só fiquei surpreso, quer dizer, um recado de Fidel?! Para mim?!
— Sim, Ibrahim. Ficamos sabendo da morte do seu pai, sentimos muito, Fidel adorava ele.
— Como assim? O Fidel conhecia meu pai?
— Não só conhecia, Fidel admirava muito o seu pai. E você sabe o que ele fazia como ninguém, não é Ibrahim?
— Éee, sim, charutos, mas só para ele. Consegui fumar algumas vezes escondido do velho, o melhor charuto que já fumei.
— Então, os charutos do senhor Fidel eram todos feitos por Barbarito, e com sua triste partida, está difícil substituí-los. Ele gostaria que você começasse a fazer, como os do seu pai.
— Mas, Omara, como eu disse, ele nunca deu o seu charuto para outras pessoas, por mais que lhe pedissem e lhe dessem dinheiro ou coisas para trocar. O velho não me ensinou a fazê-los, infelizmente.
— Ibrahim, só um momento.
— Sim…
Passados 2 minutos, que pareceram meia hora, as pessoas já se assanhavam de curiosidade, mas Ibrahim levantava as mãos como se indicasse que ainda não havia acabado. Omara voltou a falar.
— Então, o senhor Fidel imaginou isso, e gostaria de encontrar com você para o almoço, iremos mandar um carro para buscá-lo. Esteja pronto às 11:30, passaremos em sua casa.
— Han, ok então.
— Adeus, e não se atrase.
Ibrahim desliga, ainda meio entorpecido pelo que havia acabado de passar. Ele mal consegue respirar. A multidão, que antes o observava em absoluto silêncio, começa a enchê-lo de perguntas. Ibrahim mantém, por um tempo, um olhar vago e pensativo para o telefone, ficando de costas para os curiosos. Até que, enfim, se vira, encara a multidão, e diz.
— Fidel Castro quer me encontrar.